sábado, 6 de fevereiro de 2016

Veste a camisa da empresa

Com as recentes demissões na iniciativa privada, passa a ser mais difícil ver a pieguice em meio aos funcionários e executivos. Auditorias e especialistas em cortes estão visitando inúmeras corporações. E aquela alegria de usar o uniforme da empresa, de vestir-se com orgulho e altivez, passa a ser substituída pelo pânico de ficar sem trabalho e na fila do seguro desemprego. Será que as demissões atingem somente os funcionários que não vestem a camisa ou que estariam mais aptos a "buscar novos desafios"? As empresas estão buscando novos "colaboradores", vulgo empregados mesmo. Isso porque é mais barato demitir e contratar pessoas novas, por valores mais baixos, do que manter pessoas já adaptadas ao emprego, recebendo reajustes e salários mais robustos. Não tem essa de vestir camisa, a empresa toma a decisão que reduz o custo da produção e este custo inexoravelmente passa pelos custos com pessoal. Não importa muito agora se o funcionário é competente, eficiente, simpático e dedicado, mas se ele pode ou não ser substituído por alguém disposto a ganhar menos.


Não dá pra enrolar, vai ter que mostrar serviço, porque o exército de desempregados dispostos a pegar qualquer trabalho só está aumentando.


terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Fantasma do Desemprego

Neste ano um dos maiores medos do cidadão comum é o desemprego. Sem sombra de dúvidas, isto é algo que assolará uma enormidade de famílias brasileiras, talvez argentinas também com o plano do novo presidente Macri. Grosso modo, como a China, principal comprador de produtos brasileiros, está em ritmo de crescimento menor, alguns acreditam que os dados sobre crescimento são superestimados (mais detalhes), o pensamento do povo e das empresas é de pessimismo, há tendência de recessão econômica em nosso país. Neste cenário desagradável, não se pode esperar outra coisa senão o corte de gastos tanto do governo como das empresas, o que gerá demissões em massa.

         O desempenho da indústria nacional tem sido péssimo, há pouca inovação, o que leva os produtos brasileiros à regionalização, não atingindo mercados globais. Ou seja, o Brasil continua sendo relativamente forte na exportação de commodities (produtos primários), mas sua indústria está em momento de fragilidade. O consumo no mercado interno caiu, o que coloca em risco o terceiro setor. Obviamente, alguns setores crescem na crise, principalmente produtos substitutos de itens de maior necessidade; tais como a venda de carne de porco e salsichas em substituição à carne bovina. Como estamos em uma intensa rede de trocas de bens e serviços, setores como as Universidades também sentem os impactos do corte de gastos. Recentemente, um ex professor do grupo Anhanguera (Confira aqui na íntegra) relatou demissões em massa, com propostas de reajustes salariais e diminuição de remuneração. A mudança de gestão destes grupos tem a bandeira de fazer mais com menos gente.


(foto de https://neoliberalismohistoria.wordpress.com/)


         Ora, com a crise se intensificando existe mais tendência de concentração de renda. O governo já anunciou cortes em planos sociais, o Minha Casa Minha Vida sofrerá cortes de mais de 7 bilhões de reais em 2016 (confira). Os governos estaduais arrecadaram menos ICMS, que financia universidades, transportes, serviços. Concursos públicos serão congelados, estaremos no limite para cumprimento constitucional de serviços públicos. Ou seja, o corte de investimentos públicos aumenta a conta do desemprego, quem deixa de contratar com o poder público demite ou deixa de contratar. Em geral, as vítimas das demissões são pessoas bem remuneradas ou com longo tempo de casa. Isto porque as empresas preferem contratar jovens com salários menores e aguardar a enxurrada de processos trabalhistas que surgirão neste próximo biênio. Resta às famílias torcer por trabalhos temporários, freelancers, ou investimento em seu próprio negócio; porque dificilmente alguém irá contratar com muito afinco neste período de incerteza.

         Alguns economistas do século XIX acreditavam que o desemprego era causado pela não aceitação do trabalhador em receber salários menores do que julgavam merecer. Curiosamente, estamos mais próximos de observar um exército de trabalhadores em situações precárias e de subemprego. O centro do conflito social não se deve tanto às bases culturais, étnicas, religiosas, futebolísticas ou sexuais; mas sim às relações de trabalho. As crises econômicas são sempre um barril de pólvora, espera-se que o povo brasileiro consiga achar o seu fio de esperança em uma guinada econômica positiva. Até porque a previsão de melhora é 2018, com algumas ressalvas, porque esta crise tem um quê de falha estrutural de nossa economia. Se a solução de 2008 foi o consumo interno, crédito e otimismo, neste ano há pouco crédito, nenhum otimismo e muito medo. Portanto, o fantasma está sobre nossas cabeças e não é o fantasma da B, mas o fantasma do intenso neoliberalismo econômico na América Latina.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Algoritmos como limitadores de escolha



Brincadeiras à parte, é muito chato quando tentamos escolher um bom filme ou observar as redes sociais e não encontramos muitos dos conteúdos que gostaríamos de ver. Nessa onda de streaming online, em que não é mais necessário baixar toneladas de gigas de filmes, lidera o Netflix como canal privado de cinema. Uma espécie de tv a cabo para quem não é rico. Acontece que o Netflix usa e abusa do tal algoritmo de indicação de filmes. De uma forma que, não entendo bem como, a empresa realiza uma sistemática comparação de audiovisuais por meio de gêneros. Será que contrataram um cinélogo sistemático filogenético? Enfim, recentemente descobri que há um código de números para os tais gêneros. Jogando os números corretos você tem acesso aos gêneros que o algoritmo limita suas buscas, ou seja surgem os filmes que não aparecem em sua telinha.

A lista completa dos gêneros separados pela empresa você encontra no finder: http://www.finder.com/netflix/genre-list

Acho que agora vai ser mais legal usar o Netflix, porque era muito chato ficar lembrando os nomes dos filmes e ficar vendo aquelas sugestões super manjadas da telinha.



P.S.: No aguardo ansioso do Better Call Saul


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Concursos Públicos Brasileiros



Visando a estabilidade e salários mais altos em relação à iniciativa privada, muitos brasileiros estão se degladiando por posições em cargos públicos. Claro que esta disputa é dificílima e causa muito descontentamento nos milhões que não conseguem as vagas. Acontece que os concursos estão super exigentes no que se refere a índice de acertos nas questões objetivas, mas curiosamente esta capacidade não é a mais utilizada no dia-a-dia do funcionário público. Não se trata de olhar uma situação e escolher a melhor dentre cinco alternativas, mas saber escrever um relatório, reportar incongruências,  notificar erros, fazer pesquisas e não apenas decorar todas as Leis vigentes. Note que o cargo público é um emprego extremamente estável; não há sempre, para todas as posições, uma avaliação coerente do funcionário, um plano de carreira ou até períodos de capacitação. Deste modo, aquele único dia em que a pessoa marcou uma quantidade de acertos na escolha de alternativas mais ou menos certas determina o futuro e estabilidade no cargo para o resto de sua função social. Ou seja, um modo equivocado de escolha de pessoal pode influir em mais de 30 anos de execução de políticas públicas ou prestação de serviços públicos.

Não se sabe ao certo por que razão esta prática de super valorização de questões objetivas difundiu-se pelos concursos públicos. Tenho percebido na leitura de editais que títulos de doutorado, mestrado ou pós-graduação lato sensu apresentam, comparativamente, o mesmo número de pontos que 5 acertos em 100 testes. Ora, a defesa de uma tese, no assunto da posição almejada, exige muitas competências além do acerto de questões objetivas. Não se pode sequer comparar estas duas medidas, até porque os concursos apresentam questões extremamente mal formuladas, na maioria das vezes. Como se pode escolher um profissional por meio de uma série de pegadinhas e questões ardilosas? Não valorizamos a escrita? Apresentações orais? Histórico profissional e acadêmico? Publicações e autoria de projetos? O que mais importa realmente é a marcação de alternativas menos equivocadas? Fico imaginando se as questões objetivas viessem acompanhadas de uma simples condicionante: Justifique sua resposta. 

Obviamente, existem concursos mais sérios na ocupação de cargos públicos, por exemplo: concursos para professores universitários, magistratura, promotoria, defensoria pública; estes são concursos de 1 semana, com uma série de etapas bem elaboradas. Contudo, não podemos menosprezar a função de analistas, técnicos de nível superior e tantos outros cargos que exigem algo além da marcação de alternativas em questões objetivas. Recentemente, um cargo de perito do Ministério Público de São Paulo não previa a prova de títulos em seu edital. Este cargo era de uma exigência forte em conhecimentos técnicos e jurídicos, lamentavelmente o MP-SP ou o responsável esqueceu-se de anexar a prova de títulos como critério de desempate, valorizando apenas e tão somente as questões objetivas. A redação, por exemplo, é uma ferramenta crucial para a avaliação do candidato, para saber se este consegue fundamentar suas respostas, demonstrar seu raciocínio lógico; enfim, realizar uma análise profunda de problemas. Se não é viável realizar concursos de 1 semana para todo cargo, que pelo menos se aplique uma redação.

Por muitos anos houve questionamento sobre a transparência da ocupação de tais cargos públicos, muitos concursos eram conhecidos pelas "cartas marcadas". Esta prática é criminosa, é uma fraude contra os candidatos que se inscrevem e pagam um dinheiro que muitas vezes não podem dispor e também lesam o erário. Recentemente, na Universidade de São Paulo houve uma preocupação da reitoria em remover a responsabilidade do corpo docente na criação das provas e editais. O objetivo era tornar o processo mais transparente e impessoal, atendendo às exigências dos princípios da administração pública. Isso porque no passado, os docentes escolhiam os funcionários que trabalhariam em seu laboratório por meio de entrevistas. Hodiernamente, os concursos são publicizados, são do conhecimento de todos e não apenas publicações no site da USP.

(foto retirada de: http://juraemprosaeverso.com.br/GrandeArquivoDeFotosDoJuraEmProsaEVerso/40-Livros-Biblioteca/ )

Os problemas continuam, muitas das vezes, por não serem institutos sérios contratados para realização das provas de admissão. A licitação com os institutos deve ocorrer, mesmo que seja para provimento de vagas das mais singelas. Afinal, este é o princípio da impessoalidade. Simplesmente, se o instituto vazar os resultados corretos dos exames ficará impedido de participar da licitação pública. Não se pode admitir, ainda mais nos tempos atuais, uma administração pública personalista. Sobretudo em momentos de crise econômica, porque não mais pode-se admitir cargos comissionados para toda e qualquer função em uma profusão incrível de funções. Diga-se, muitos dos concursos realizados não são da escala federal ou estadual, mas das prefeituras e autarquias públicas. Assim, na microesfera do poder as irregularidades tendem ao infinito. O próprio MP-SP move ações contra prefeituras, e PREFEITOS, que superdimensionam os cargos comissionados e se negam a abrir concursos públicos. Em uma cidade próxima de Campinas, de 116 mil habitantes, havia cerca de 250 cargos comissionados, até o regente da banda mirim da cidade era comissionado. Cargos desta categoria devem ser da confiança política do gestor público e não devem ser do quinto ou sexto escalão da administração.

Portanto, nossa Democracia exige um comportamento condizente com os princípios da administração pública. Ao contrário do que muitos pensam, nosso país tem déficit de funcionários públicos. Não se pode pensar que o Estado Brasileiro é muito grande e que há uma máquina gigante, a máquina não é tão grande em relação a países de nossa proporção. No Brasil são em torno de 6O funcionários públicos por mil habitantes, no Chile são 78, na República Tcheca são 163, na Grécia 190 e no Reino Unido são 198*. O que se pode questionar é a eficiência dos serviços e políticas públicas prestadas em nosso país. Obviamente, muitos destes problemas ocorrem na gestão de funcionários públicos, falta de treinamento, problemas educacionais e processo seletivo ineficaz. É mais do que necessário rever as práticas de admissão de funcionários públicos e criação de mecanismos que avaliem os recursos humanos de forma mais ampla e robusta. Não apenas para garantir a lisura da distribuição de cargos, mas para melhorar a eficiência da gestão da administração pública no Brasil. 



 *Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
Não Houve Abuso da PM


Estas são as palavras conclusivas do prezado professor da Sanfran e também Secretário da (in)Segurança pública do Estado de São Paulo Alexandre de Moraes.

Acho que estas palavras servem como um grande mantra: "ommmnnn, não houve abuso", "ommmmnnn, não houve abuso"

Quem sabe se repetirmos seis mil seiscentos e sessenta e seis vezes estas palavras o cidadão preguiçoso, que chega cansado em casa e liga o seu aparelho lobotomizador... digo, o aparelho televisor irá entender que são vândalos destruindo as vidraças de bancos... digo, o patrimônio público do Estado e ofendendo a moral e os bons costumes que merecem apanhar mesmo da polícia. Bater uma selfie com a camisa da seleção, pode?

Ora, o próprio manual da PM condena a Panela de Hamburgo, prática de cercar grupos de pessoas gerando uma repressão violenta, e prescreve a saída dos manifestantes em situações que requerem o choque. Mas descumprir o manual é uma ação regular, está certo, não houve abuso (repita cem vezes).

Não vamos falar sobre os atos arbitrários nas comunidades periféricas, porque seria até hipócrita da minha parte mencionar abuso policial em plena luz do dia, contra jovens de classe média. Os maiores abusos da polícia ocorrem contra a população jovem e negra do Estado.

Em tempos de Estado Democrático de Direito, estas ações aparecem como anacronismos do nosso poder público. Manifestar-se frente a abusos é um dever cívico, 3 anos após 2013 e as contas dos subsídios e do valor absurdo de passagens continuam herméticos para o cidadão comum.

E a corporação fecha o dia pregando a "Obediência cega às leis", bem... somente as leis que interessam, porque esquecem de princípios fundamentais.


Isto é o que dá fazer protestos justificados e com pautas claras, se fosse a comemoração de um título de futebol ou protestar contra nada teríamos até passe livre no Metrô. Assim se propaga um governo eficiente que tanto se preocupa com a perpetuação no poder.



(foto retirada de: http://www.thebuddhacenter.org/buddhism/mantras/)


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Se torta é uma deliciosa receita, principalmente de limão, também pode ser algo sinuoso, sinistro ou enviesado. Há quem pense, ao ler estas palavras, no direito em oposição ao torto (tort), ou no sinistro. Mas não fiquemos apenas nas dicotomias de bom e mau, certo e errado; sem apreciações de moralidade ou conformidade apenas.

Engraçada também é a mente humana que por vezes inventa algo melhor que a própria realidade. Como estas receitas gastronômicas que se transformam em pratos desconstruídos, quando na realidade são meros erros de montagem. Uma verdadeira mentira, ou melhor uma invenção de nossa mente.

Assim é a torta mente, que distorce e retorce por vezes os fatos. Só que isto não fica apenas no plano do indivíduo, a pessoa jurídica também pode muito bem inventar realidades difusas para resignificar o mundo. Para ser franco, isso é bem fácil de ver por aí.


Aqui estamos nesta inauguração do blog desexplicando mais do que ajudando qualquer pessoa.

(foto de http://ocasamentochic.com.br/receita-torta-de-limao/)
torta-de-limao